Primavera e Pandemia
Ana Valentina Angelo
Primavera e Pandemia
Sob o Céu de Figueira XI
Olá, linda Figueira! Do que se trata?


O mundo está triste…é o vírus!

Que falta me faz caminhar pela cidade. Cruzar com pessoas alegres, despreocupadas a caminho do trabalho, da praia, nos famosos cafés, nos lugares históricos, na marina ou mesmo admirando o Mondego.

Fotos: Cesar Angelo
Perigo? De onde vem?
O mal que reprime o figueirense, espreita o mundo, vem de longe e vai para longe a deixar seu rastros sinistros. Vem esquisito, estranho, devasta a vida humana, indiferente às outras vidas que a rodeiam.

Foto: Cesar Angelo
Só da janela?!
Da janela (e só da janela!) vejo o mundo. O mar – calmo e lindo – beija a areia da Praia da Claridade. A gaivota, alheia à ausência do pescador, vagueia pelo céu como sempre, os jardins estão abundantes e coloridos, mas as ruas estão vazias!
O ecossistema parece ordeiro e insensível aos acontecimentos. Em cumprimento ao isolamento social as pessoas tentam se proteger de um inimigo desconhecido, letal e invisível. Lá fora o vírus espreita e não perdoa.


Fotos: Cesar Angelo
Pesadelo?
Que mundo estranho o de hoje! Quem dera pudéssemos ter permanecido no ontem. Ironicamente… neste momento, a fragilidade do homem é estar vivo. Que saudades de caminhar sob seu sol, Figueira. Que saudades de mim mesmo…
À noite, o ser humano anseia pela manhã na esperança de acordar e perceber que tudo não passa de um terrível pesadelo.



Fotos: Cesar Angelo
A poetisa

Foto: Cesar Angelo
Em algum lugar, melancolicamente, a poetisa canta a chegada da primavera no hemisfério norte.
A Primavera do hemisfério norte
Irene Vella
“Era março de 2020. As ruas estavam vazias, as lojas fechadas, as pessoas não podiam mais sair. Mas a primavera não sabia, e as flores começaram a florir, o sol brilhava, os pássaros cantavam, as andorinhas não tardariam a chegar, o céu estava azul e a manhã chegava mais cedo.
Era março de 2020. Os jovens iam estudar online e arranjar com o que se ocupar em casa. As pessoas não podiam ir mais aos centros comerciais nem tão pouco ao cabeleireiro.
Dentro, em breve, não haveria mais vagas nos hospitais, e as pessoas continuavam a adoecer. Mas a primavera não sabia. Era a altura de tratar dos jardins, a erva estava cada vez mais verdejante.
Era março de 2020. As pessoas foram postas em confinamento para proteger os avós, famílias e crianças. Acabaram de reuniões e refeições em família.
O medo tornou-se real e os dias eram todos iguais. Mas a primavera não sabia. As macieiras e cerejeiras e todas as outras árvores começaram a florir e as folhas cresceram.
As pessoas começaram a ler, a jogar em família, a aprender outra língua. Cantavam nas varandas e convidavam os vizinhos a fazerem o mesmo. As pessoas aprenderam uma língua nova, a serem solidários e concentraram-se noutros valores.
As pessoas aperceberam-se da importância da saúde, do sofrimento, deste mundo que tinha parado, da economia que tinha tombado. Mas a primavera não sabia. As flores deram lugar aos frutos, os pássaros fizeram os seus ninhos, as andorinhas chegaram.
Então chegou o dia da libertação. As pessoas ouviram na televisão: “o vírus perdeu!”. As pessoas saíram às ruas, cantavam, choravam, abraçavam-se os vizinhos, sem máscaras nem luvas.
E então o verão chegou porque… a primavera não sabia. Ela continuou lá apesar de tudo. Apesar do vírus, apesar do medo, apesar da morte. Porque a primavera não sabia, mas ensinou às pessoas o Poder da Vida.”¹



Fotos: Cesar Angelo
Até mais, linda Figueira.

A você que me acompanha nesta coluna, até o próximo encontro.
Autora: Ana Valentina Angelo
Idioma: Português Brasileiro
A autora não pratica as mudanças do Acordo Ortográfico 1990/2009