Ana Valentina Angelo

Luís Vaz de Camões

Sob o céu de Figueira XIV

Olá Figueira,

Bons ares, Rainha das Praias! Caminhar quase tranquilamente por suas ruas é um privilégio, embora a situação do mundo seja preocupante. O Coronavirus ainda assombra o planeta.

Apesar de todas as questões ligadas à pandemia os figueirenses já podem se movimentar pelas ruas e fazerem suas atividades normais desde que atendam às orientações sobre o uso de máscaras em ambiente fechado, respeitem as distâncias pré-determinadas e se afastem dos aglomerados. Figueira, a presença de seus visitantes promete, a brisa convida, as ondas assediam deliciosamente, a lua cheia – a dois dias de minguante – enfeita o céu azul….

10 de junho, um dia ímpar para Portugal.

Sem dúvida, 10 de junho é um dia especial para o povo português. Nesta data se homenageia Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas do mundo inteiro. É uma comemoração muito esperada e, mais, em 10 de junho de 1982 você, Figueira, foi protagonista direta no evento; recepcionou toda a comemoração do país.  Por isso eu lhe trouxe um presente: Camões acalanta o um dos seus amores, o Mondego:

Estátua de Camões em Lisboa - By Osvaldo Gago - Own work, CC BY-SA 2.0

Doces águas e claras do Mondego ¹           

Rio Mondego - Foto: Vitor Oliveira

Luiz Vaz de Camões

Doces águas e claras do Mondego,
doce repouso de minha lembrança,
onde a comprida e pérfida esperança
longo tempo após si me trouxe cego;

De vós me aparto, si; porém não nego
Que inda a longa memoria, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança,
Mas quanto mais me alongo, mais me achego

Bem poderá a Fortuna este instrumento
Da alma levar por terra nova e estranha,
Offerecido ao mar remoto, ao vento.

Mas a alma, que de cá vos acompanha,
Nas azas do ligeiro pensamento
Para vós, águas, vôa, e em vós se banha.

Portugal homenageia o seu dia

Este 10 de junho de 2020 também deveria ser de comemoração, entretanto a tristeza pela pandemia não permitiu ao evento o entusiasmo de sempre. Apesar disso a data não foi esquecida; o Povo Português estava representado pelo seu Presidente da República, no Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa, para o ato.

Após o hasteamento da Bandeira, ao som do Hino Nacional Português, flores foram colocadas sobre a sepultura de Luiz Vaz de Camões; tributos foram prestados aos soldados mortos a serviço da pátria e em seguida os pronunciamentos do Cardeal José Tolentino de Mendonça e do Presidente da República, Marcelo de Souza homenagearam o Povo Português.

Once again, the President of the Republic called for the strength and determination of the Portuguese people in the face of the great threat posed by the pandemic that is plaguing the planet. He ended his speech by saying that we cannot pretend that the pandemic did not exist, on the contrary, it must be recognized to understand and better combat its consequences.

Mais uma vez, o Presidente da República conclamou a força e a determinação do povo português diante da grande ameaça que representa a pandemia que assola o planeta. Finalizou sua fala afirmando que não se pode fingir que a pandemia não existiu, ao contrário, deve-se reconhecê-la para entender e melhor combater as suas consequências.

Se presenteio a você, Figueira, com Camões a cantar o Mondego, nada mais justo que se traga, também, o grande poeta Camões a saudar a saga portuguesa, contemplando a todos os lusófonos, de ontem e de hoje.

Túmulo do poeta em Jerônimos

Portugal, Tão Diferente de seu Ser Primeiro ² ³

Luiz Vaz de Camões 1577

Luiz Vaz de Camões

Os reinos e os impérios poderosos,
Que em grandeza no mundo mais cresceram,
Ou por valor de esforço floresceram,
Ou por varões nas letras espantosos.

Teve Grécia Temístocles; famosos,
Os Cipiões a Roma engrandeceram;
Doze Pares a França glória deram;
Cides a Espanha, e Laras belicosos.

Ao nosso Portugal, que agora vemos
Tão diferente de seu ser primeiro,
Os vossos deram honra e liberdade.

E em vós, grão sucessor e novo herdeiro
Do Braganção estado, há mil extremos
Iguais ao sangue e mores que a idade.

 

Coluna: Sob o céu de Figueira
Autora: Ana Valentina Ângelo
Idioma: Português Brasileiro
A autora não pratica as mudanças do novo Acordo Ortográfico