Ana Valentina Angelo

Forte de Santa Catarina - Figueira da Foz

Sob o céu de Figueira XVIII

Olá linda Figueira Foz,

 

O céu está azul, é final de semana e seus visitantes estão na areia da praia da Claridade e Buarcos. Outubro chegou e o clima é ameno e agradável. Uma nova onda da Covid-19 espreita o planeta; assim, há que se ter certos cuidados.

 

 

Você, Figueira, é muito aprazível e o mundo espera por dias melhores, livres da Covid-19, para usufruir descontraidamente de seus encantos. Por hora, nada de aglomeração, uso permanente de máscaras em ambientes fechados e o agradecimento aos que cuidam adequando os espaços públicos e ao empenho incomensurável dos profissionais da saúde sempre presentes. Alegria não está proibida; esperança também não.

Vamos à caminhada de hoje

Venho da Praia de Buarcos e caminho na marginal da Praia da Claridade em direção à Marina. Avisto o Forte de Santa Catarina.  Contemplar ao longe sua muralha, seu farol e acrescentar ao que nos diz a História sobre a saga desse povo desde os idos da pré-história, trata-se de um delicioso caminhar contra o tempo.  A História oferece os efeitos e seus protagonistas permitindo ao visitante a constatação dos vestígios in loco.

Forte de Santa Catarina - Foto: Cesar Angelo

O Monte de Santa Catarina em Figueira da Foz

Francisco Costa¹, em sua brilhante dissertação de mestrado descreve a gênese da atual Freguesia de Figueira da Foz como segue: “Enquanto embrião territorial, a Figueira era constituída com algumas elevações de terreno, tendo destaque o Monte de Santa Catarina, onde se ergue o Forte, (…) e a parte da Zona do Monte (…). Por sua vez, o Rio Mondego invadia grande parte da zona sul, rasgando três praias fluviais pelo território: a Praia da Fonte a Oeste, a Praia da Reboleira ao Centro e a Praia da Ribeira a Este. Sobre a parte Oeste, fronteiro ao mar, o território seria maioritariamente plano embora com alguns desnivelamentos”2

A barra do Mondego e a Aldeia de Figueira da Foz (pormenor do Atlas)

A Capela de Santa Catarina em Figueira da Foz

Lembra, ainda, Francisco Costa (citando Irene Pereira) que o Monte de Santa Catarina leva esse nome por estar situado na passagem que conduzia à foz do caudaloso Mondego, onde já existia uma Capela atribuída à mesma santa, antes mesmo da construção das muralhas da fortaleza, conforme “contrato estabelecido pelo Mosteiro de Santa Cruz, em 1589, com Mateus Rodrigues, para a sua reedificação. Acrescenta que “a capela serviu ainda de tribunal de Inquisição, em 1645, e, em 1733, realizaram-se nela algumas escrituras públicas”.3

Ermida de Santa Catarina, Moreira Júnior (1935)

A vida de Santa Catarina de Alexandria

Santa Catarina (à esquerda) – Escultura de barro séc. XIX. Museu Municipal Santos Rocha, inv. 18-H-001

Santa Catarina (à direita) – Escultura de calcário séc.XV. Museu Municipal Santos Rocha, inv. 00-H-048

“A vida e o martírio de Catarina de Alexandria estão de tal modo mesclados às tradições cristãs que ainda hoje fica difícil separar os acontecimentos reais do imaginário de seus devotos, espalhados pelo mundo todo. Muito venerada, o seu nome tornou-se uma escolha comum no batismo, e em sua honra muitas igrejas, capelas e localidades são dedicadas, no Oriente e no Ocidente.” 5

Conta-se que a bela Catarina de Alexandria, filha do rei Costus, possuidora de rara beleza, intelectual, aos 18 anos de idade recusa-se a abandonar o cristianismo para adorar os deuses egipcios e casar-se com o Imperador Maximino, que lhe prometia se divorciar da esposa e fazer dela a Imperatriz.

Diante da recusa de Catarina,  Maximino a condena à tortura por meio de uma roda com lâminas e ferros ponteagudos. Diante do algoz, Catarina fez o Sinal da Cruz e a roda se fez em pedaços. Irado, o Imperador ordenou sua decapitação. Seu corpo foi levado por anjos ao Monte Sinai em 25 de novembro do ano 305.

 

Séculos depois,  Justiniano construiu o Mosteiro e a Igreja de Santa Catarina no Monte Sinai e, somente, no séc.VIII o túmulo da Santa foi localizado. São atribuídos à Santa Catarina de Alexandria inúmeros milagres em todo o mundo.

O Forte de Santa Catarina de Figueira da Foz

Francisco Costa, citando Rui Cascão , afirma que o Forte de Santa Catarina recebeu reparos nos reinados de D. Sebastião (1557) e D. Henrique (1578); certo é que somente em 1648 as muralhas são construídas e, com o fato, amplia-se o poder de fogo da fortaleza, o que reforça a “segurança marítima local”.6

Em virtude das condições geográficas de Figueira da Foz e do Rio Mondego, “acredita-se, e com fundamento histórico, que os alicerces desta fortificação pertencem ao reinado de D. João I (1385-1433). Devido à posição da Figueira e para proteção da barra do Rio Mondego, alguns homens de destaque da Câmara de Coimbra requereram ao Rei D. Filipe I a construção de um forte para esses fins, e a proposta foi aceite.”7

Em diversas obras pesquisadas nem sempre há precisão quanto a algumas datas em fatos históricos, contudo, é evidente o envolvimento e a importância histórica do Forte de Santa Catarina na proteção e no crescimento de Figueira da Foz. É inquestionável a presença dos figueirenses no ataque e saque do forte por piratas ingleses em 1602;  na construção da muralha em 1643; na invasão ao forte pelo exército napoleônico e sua retomada pelos figueirenses.

Cúpula da Capela e Farol do Forte de Santa Catarina - Foto: Cesar Angelo
Vista da praia da Claridade das améias do Forte de Santa Catarina - Foto: Ana Valentina Ângelo
Espelho d'água nos jardins do Forte de Santa Catarina - Foto: Ana Valentina Ângelo

Lembre-se: apesar da Covid-19,  você visitante de Figueira da Foz é sempre muito bem-vindo e poderá sorver as maravilhas que a História Portuguesa nos reservou. Vindo à Figueira (e mesmo em sua casa) atenda às recomendações que visam minimizar a disseminação do virus da pandemia.

 

Até o nosso próximo contato.

Fontes e citações:

1 Costa, Francisco José Cruz Velho da , Mestre História da Arte, FLUPorto/2019 https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/124549/3/369127.pdf

2,3,4,6 https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/124549/3/369127.pdf

5 http://www.arquisp.org.br/liturgia/santo-do-dia/santa-catarina-de-alexandria

7 https://www.visitarportugal.pt/coimbra/figueira-foz/figueira-foz/forte-santa-catarina

Referências:

https://www.researchgate.net/publication/339795706_Os_rochedos_encantados_de_Sao_Juliao_e_de_Santa_Catarina_berco_da_Figueira_da_Foz

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74200/

http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/e01.html

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2711

azar%C3%A9.pdf

 

Coluna: Sob o céu de Figueira
Autora: Ana Valentina Ângelo
Idioma: Português Brasileiro
A autora não pratica as mudanças do novo Acordo Ortográfico

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