Ana Valentina Angelo

Castelo Santa Olaia

Sob o céu de Figueira XVII

Olá Figueira, suas praças continuam floridas… e o figueirense gosta.

O céu é azul e o sol é quase tímido… a brisa refresca os mais afoitos que caminham na areia ao lado das gaivotas. O corona vírus assustou a cidade, mas já dá sinais de retirada, com tanto que persigamos sempre as normas de segurança: não aos aglomerados, e máscara em lugares fechados. Assim, os turistas …. não, Figueira!…. os seus convidados se misturam com os figueirenses e usufruem da areia, das ondas, do mar…

Ser figueirense é uma aventura sem par. Haja tempo, porque oportunidades não faltam para usufruir de tanto que você, Figueira, oferece. Então… vamos passear.

O Castelo de Santa Olaia (Eulália)

Caminho da praia de Buarcos até a Torre do Relógio da Praia da Claridade e tomo direção a leste e, em dez minutos de carro, estou na divisa de Figueira da Foz e Montemor-o-Velho diante de uma escadaria rústica que me leva a uma pequena e antiga construção – a singela Capela de Santa Olaia (ou Eulália). O pequeno santuário, tal como as ruínas de um castelo do mesmo nome, é considerada Patrimônio de Interesse Público desde 1954, todavia não está disponível a visitas por estar aguardando o trabalho de recuperação, já que sua famosa cúpula começa a ruir.

 

A vegetação é natural, robusta, predominantemente mediterrânea e contrasta com a visão das infindas plantações de arroz que, beneficiadas pelo braço direito do Mondego, atapetam a região no entorno do Monte de Santa Olaia e Ferrestelo.

Cúpula da Capela de Santa Olaia (Eulália) - foto: https://www.diariocoimbra.pt/noticia/34566

As ruínas do Castelo de Santa Olaia (Eulália)

Adentrando ao entorno da Capela, visualiza-se compactos alicerces de pedra que brotam dentre a mata rasteira; são os vestígios do antigo Castelo de Santa Olaia (ou Eulália) no monte Ferrestelo. A sensação é ímpar, indescritível, comenta o visitante vindo de continentes mais novos.

A referência documental mais antiga sobre o Castelo de Santa Olaia data de 1087, no testamento do Conde Sesnando, conforme o “Livro Preto do ano de 1087” ¹.

O Povoado de Santa Olaia

Montes de Santo Olaia e Ferrestelo - foto: Cesar Angelo

Pisar a terra onde – tudo indica – caminharam os fenícios, povos da antiguidade, de cultura comercial marítima no mar Mediterrâneo de 1500 a.C. a 300 a.C. me faz imaginar a cena:

 “O povoado de Santa Olaia está implantado na margem direita do antigo estuário do Mondego, rio que dista actuamente cerca de um km, o sítio de Santa Olaia era provavelmente, na antiguidade, uma pequena ilhota” ²

Pesquisas arqueológicas (Santos Rocha e Isabel Pereira) demonstram vestígios da ocupação humana no local desde a pré-História, na idade do Ferro e posteriormente nas épocas romana e medieval. É possível dizer-se que existem vestígios arqueológicos de seis povoamentos: um do neolítico, três da idade do ferro, um da ocupação romana (séc. II a III a.C. e um da idade média. Em 1116, os mouros destroem o Castelo de Santa Olaia.

Perdas históricas sobre o povoado de Santa Olaia

Com o tempo, a necessidade de contato terrestre da região com Coimbra, tanto político e comercial como também para facilitar os acessos aos arrozais, o povoamento de Santa Olaia sofre sérias mudanças em sua configuração em virtude da construção de estradas que destroem patrimônios historicamente riquíssimos.

Assim, está descrito no Centro de Estudios Fenicíos Y Púnicos – Universidade de Lisboa:

“Em 1937, o alargamento de estrada agora denominada EM 111, viria provocar a destruição de partes do muro e pavimentos postos a vista por Santos Rocha e, ainda, o aterro do “poço”, de modo a permitir o acesso aos arrozais. Mais graves foram (…) os estragos provocados pela construção da IP3, quando as estruturas a Norte (fosso, muralha, fornos) foram gravemente atingidas”.

Eu sei, Figueira, os amantes da História e da Arqueologia não conseguem entender e nem mesmo justificar a perda que a humanidade sofre quando se tem que abrir mão de patrimônios tão ricos relacionados aos valores da vida.

Museu Municipal Santos Rocha de Figueira da Foz

Aos amantes da arqueologia, Figueira da Foz convida para uma visita ao Museu Municipal que leva o nome de Antônio Santos Rocha (1853 – 1910) que fez as primeiras escavações no Monte de Santa Olaia de Ferrestelo onde foram encontrados os vestígios milenares dos povoamentos da região.

Museu Municipal Santos Rocha de Figueira da Foz - foto: wikipedia.org

 

Coluna: Sob o céu de Figueira
Autora: Ana Valentina Ângelo
Idioma: Português Brasileiro
A autora não pratica as mudanças do novo Acordo Ortográfico

This Post Has 3 Comments

  1. Matilde Francisca

    Lindas fotos! Saber que ainda há quem de valor a rica história de Portugal me anima a fazer escapadinha à Figueira novamente.

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