¹Raimundo António de Bulhão Pato foi monárquico, gastrónomo, memorialista, mas o seu sonho era entrar para a história como poeta. Eça de Queirós caricaturou-o numa personagem dos Maias, mas hoje é mais conhecido por uma receita de amêijoas preparada em sua homenagem.
Amêijoas à Bulhão Pato
Sabrina A.
Amêijoas à Bulhão Pato
Gastronomia em Figueira III
Bem-vindo a mais um post do Gastronomia em Figueira. A história do prato de hoje é muito interessante e nos leva a uma época muito importante para Portugal, por volta de 1850, onde grandes escritores e poetas renomados enchiam a comunidade com as suas histórias recheadas de críticas sociais e alusões a um mundo melhor.
O seu nome ficou associado a uma receita de amêijoas da qual, no entanto, não era autor. Foi o chefe de cozinha do Hotel Central de Lisboa, João da Mata, seu admirador confesso, que pela primeira vez as cozinhou, resolvendo homenagear o poeta dando o seu nome ao petisco.
Quem era afinal Raimundo António de Bulhão Pato?
Raimundo António de Bulhão Pato nasceu em Bilbau (Espanha) em 3 de março de 1828. Filho de um fidalgo Português com uma espanhola, Raimundo viveu onde nasceu até o final da Primeira Guerra da Carlistina, mudando para Portugal, após grandes transtornos, em 1837.
É então matriculado na escola politécnica de Lisboa, onde não finaliza o curso. Segue carreira como funcionário público de 2º oficial da 1ª repartição da Direcção-Geral do Comércio e Indústria.
Apaixonado por caça e poesia e tendo uma carreira estável. Raimundo resolve desenvolver os seus dotes culinários e poéticos através da publicação de várias obras durante o decorrer de sua vida. Estão são:
- Poesias de Raimundo António de Bulhão Pato (1850)
- Versos de Bulhão Pato (1862)
- Digressões e Novelas (1864)
- Paquita (1866)
- A José Estevão (1866)
- Canções da Tarde (1867)
- Flôres agrestes (1870)
- Paizagens (1871)
- Canticos e satyras (1873)
- Sob os Ciprestes: Vida intima de homens illustres (1877)
- Hamlet (tradução) (1879)
- Mercador de Veneza (tradução) (1881)
- Satyras (1896)
- Canções e Idyllios (1896)
- Livro do Monte (1896)
- Memórias (1894-1907)
²Com outras personalidades importantes da sociedade portuguesa da época, forneceu receitas para a obra O cozinheiro dos cozinheiros, editada em 1870 por Paul Plantier.
João da Mata e as Amêijoas à Bulhão Pato
De acordo com o rtp.pt, foi o chefe de cozinha do Hotel Central de Lisboa, João da Mata, admirador confesso de Raimundo António de Bulhão Pato, que pela primeira vez as cozinhou, resolvendo homenagear o poeta dando o seu nome ao petisco.
Já ³o crítico gastronómico José Quitério reproduz algumas dessas receitas fornecidas pelo poeta: perdizes à castelhana (que começa com uma indicação muito prática: “depenem-se quatro perdizes com todo o cuidado e o maior asseio”), arroz opulento e lebre à Bulhão Pato. Tudo pratos com um grau de elaboração superior ao das amêijoas que ganharam o nome do poeta.
Uma coisa é certa, o prato não foi elaborado pelo escritor, e sim nomeado em sua homenagem.
³José Quitério garante não existir qualquer escrito que demonstre a autoria do prato, admitindo-se que tenha sido uma homenagem de algum cozinheiro ao poeta. A ser o caso, escreve Quitério, só poderia ser João da Mata, chefe de cozinha do antigo Hotel Bragança e, contudo, a receita também não aparece no seu livro Arte de Cozinha, de 1876.
O preparo de amêijoas pode ser feita de diferentes formas. Confira algumas receitas:
Variações no preparo de Amêijoas
Amêijoas à Bulhão Pato
Abaixo segue a receita de Amêijoas à Bulhão Pato fornecida pelo site pingodoce.pt. No próximo post apresentaremos a versão desse prato pelo Sun with Style. Sua criadora é apaixonada por culinária e incorpora seu conhecimentos internacionais em cada prato.
Ingredientes:
- 1,5 kg de amêijoas depuradas
- 1 cebola
- 6 dentes de alho
- 4 col. de sopa de azeite
- 1 molho de coentros
- 3 col. de sopa de vinho branco
- 1 limão
Modo de preparo:
Certifique-se de que as amêijoas estão bem depuradas, lave-as em água corrente e deixe-as escorrer dentro de um coador de rede.
Leve a cebola e os dentes de alho, finamente picados, ao lume com o azeite até começarem a alourar.
Adicione os pés dos coentros picados, incorpore as amêijoas e mexa.
Regue com o vinho branco, tape e cozinhe em lume moderado cerca de 5 minutos ou até as amêijoas abrirem, agitando o tacho de vez em quando para que todas recebam calor por igual.
Polvilhe com as folhas dos coentros e regue com o sumo do limão.